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"Os livros nos dão conselhos que os amigos não se atreveriam a dar-nos." Samuel Smiles
Destinada - P.C. Cast e Kristin Cast Online
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Destinada - P.C. Cast e Kristin Cast Online
House of Night - 09 - Destined
Por P.C. Cast e Kristin Cast
Para Allie Jessen com amor e gratidão.
Nossa Magia funciona porque vc é mágica!
Prólogo
- Spoiler:
Acho que minha mãe está morta. Testei as palavras na minha mente. Elas pareceram erradas,
estranhas, como se eu estivesse tentando compreender o mundo virado de cabeça para baixo ou como
se o sol estivesse nascendo no oeste. Dei um suspiro profundo e soluçante e virei de lado para pegar
outro lenço de papel na caixa que estava no chão ao lado da cama. Stark resmungou, franziu a testa e
se remexeu inquieto. Devagar e cuidadosamente, saí da cama, peguei o enorme blusão de Stark no
lugar onde ele o tinha jogado, coloquei-o e me encolhi no pufe que ficava perto da parede do nosso
pequeno quarto nos túneis. O pufe fez aquele barulho de piscina de bolinhas de festa de criança, e
Stark franziu a testa e murmurou algo novamente. Eu assuei o nariz. Em silêncio. Pare de chorar, pare
de chorar, pare de chorar! Isso não vai ajudar. Isso não vai trazer Mamãe de volta. Pisquei algumas
vezes e limpei meu nariz outra vez. Talvez tenha sido só um sonho. Mas, no momento em que pensei
nisso, meu coração já sabia a verdade. Nyx tinha me desviado dos meus sonhos para me mostrar uma
visão de Mamãe entrando no Mundo do Além. Isso significa que Mamãe tinha morrido. Mamãe disse
para Nyx que ela sentia muito por me decepcionar, eu lembrei a mim mesma, enquanto lágrimas
escorriam pelas minhas bochechas de novo. - Ela disse que me amava - suspirei. Eu quase não tinha
feito nenhum barulho, mas Stark se agitou todo inquieto e murmurou: - Pare! Fechei meus lábios,
apesar de saber que não era o meu suspiro que estava atrapalhando o sono dele. Stark era meu
guerreiro, meu Guardião e meu namorado. Não, namorado é uma palavra simples demais. Existe uma
ligação entre mim e Stark mais profunda do que namoro, sexo e todas as coisas que fazem parte de
relacionamentos normais. Era por isso que ele estava tão inquieto. Ele podia sentir minha tristeza - até
nos seus sonhos, ele sabia que eu estava chorando, magoada, com medo e... Stark tirou o cobertor de
cima do seu peito e eu percebi que seu punho estava cerrado. Olhei atentamente para o rosto dele. Ele
ainda estava dormindo, mas sua testa estava franzida e cheia de rugas. Fechei os olhos e inspirei para
me equilibrar. - Espírito - suspirei - Por favor, venha para mim - instantaneamente, senti o elemento
roçar minha pele. - Ajude-me. Não, na verdade, ajude Stark, protegendo-o da minha tristeza - e talvez,
acrescentei mentalmente, você possa me proteger da minha própria tristeza também. Mesmo que seja
só por um tempinho. Inspirei profundamente outra vez, enquanto o espírito se moveu dentro e em
volta de mim, girando sobre a cama. Ao abrir os olhos, consegui ver uma agitação no ar envolvendo
Stark. Sua pele parecia brilhar enquanto o elemento se acomodava sobre ele como braços, e percebi o
mesmo brilho suave repousando sobra a minha pele. Stark soltou um longo suspiro junto comigo
enquanto o espírito operava uma magia reconfortante, e pela primeira vez em horas senti uma
pequena parte da minha tristeza ir embora. - Obrigada, espírito - sussurrei e cruzei meus braços,
abraçando-me com força. Envolvida pelo toque suave do elemento ao qual eu me sentia mais próxima,
senti-me um pouco sonolenta. Foi então que um tipo diferente de calor penetrou em minha
consciência. Devagar, sem querer perturbar o feitiço de conforto que o elemento estava fazendo, soltei
meus braços e toquei meu peito. Porque a minha pedra de vidência está quente? A pedra pequena e
redonda estava pendurada na minha corrente de prata, pousada entre os meus seios. Eu não a havia
tirado desde que Sgiach me presenteara com ela antes de eu partir da linda e mágica Ilha Skye.
Pensativamente, tirei a pedra de baixo do blusão, correndo meus dedos por sua superfície lisa de
mármore. Ela ainda me lembrava duma pastilha de Life Safer de coco, mas o mármore de Skye cintilava
com uma luz sobrenatural, como se o elemento que eu invocara tivesse feito a pedra ficar viva - como
se o calor que eu sentia fosse porque ela pulsava com vida própria. A voz da rainha Sgiach ecoou na
minha memória: Uma pedra da vidência está em sintonia apenas com a mais antiga das magias: o tipo
que eu projeto na minha ilha. Eu a estou presenteando com uma pedra da vidência para que você
possa, de fato, reconhecer a Antiga Magia, se ela ainda existir no mundo exterior. Enquanto essas
palavras se repetiam na minha mente, a pedra se virou devagar, quase preguiçosamente. O buraco no
seu centro parecia um minitelescópio. Quando ela se virou, eu pude ver Stark iluminado através do
buraco, e meu mundo se alterou também, estreitando-se, e então tudo mudou. Talvez porque o
espírito estivesse tão perto de mim naquele momento, o que eu vi não foi nada parecido com
alucinante primeira vez em que eu havia olhado através da pedra em Skye e acabara desmaiando. Mas
isso não significa que tenha sido nem um pouco menos perturbador. Stark estava lá, deitado de costas,
com a maior parte do sei peito nu. O brilho do espírito tinha desaparecido. No seu lugar, eu vi outra
imagem. Era mal definida, no entanto, e eu não consegui perceber suas feições. Era como a sombra de
alguém. O braço de Stark se contraiu e sua espada de Guardião - a enorme e longa espada que tinha
vindo até Stark no Mundo do Além - tomou forma na mão de Stark. Eu arfei surpresa, e o guerreirofantasma
virou sua cabeça na minha direção e fechou sua mãe em volta da espada. No mesmo
instante, a espada se alterou e se transformou em uma longa lança negra - perigosa letal e manchada
de sangue, ela parecia familiar demais para mim. Pontadas de medo me atravessaram. - Não! - eu gritei
- Espírito fortaleça Stark! Faça essa coisa ir embora! - com um barulho parecido com o bater de assas
de um pássaro gigante, o espectro desapareceu, a pedra de vidência ficou fria e Stark se sentou
franzindo a testa para mim. - O que você está fazendo aí? - ele esfregou seus olhos - Por que você está
fazendo tanto barulho? Abri minha boca para tentar explicar a coisa bizarra que eu tinha acabo de ver,
quando ele deu um suspiro profundo e se deitou de novo, abrindo as cobertas e me chamando
sonolentamente.
- Vem aqui. Eu não consigo dormi se você não estiver de conchinha comigo. E eu realmente
preciso dormi um pouco. - Eu também - eu disse. E, com as pernas bambas, fui rápido em direção a ele
e me encostei do seu lado, com a cabeça sobre seu ombro. - Ei, ahn, acabou de acontecer uma coisa
estranha - comecei, mas, quando eu levantei a cabeça para olhar nos olhos dele, os lábios de Stark
encontraram os meus, A surpresa não durou muito, e aos poucos eu comecei a beijá-lo também. Era
bom, tão bom estar perto dele. Seus braços me envolveram. Pressionei meu corpo contra o dele,
enquanto seus lábios seguiam a curva do meu pescoço. - Pensei que você tinha dito que precisava
dormi - minha voz soou ofegante. - Eu preciso mais de você - ele respondeu. - É, eu também - eu disse.
Então, nos entregamos um ao outro. O toque de Stark afugentou a morte, o desespero e o medo.
Juntos, Lembramos um ao outro sobre a vida, o amor e a felicidade. Depois de tudo, finalmente
dormimos, e a pedra de vidência repousou fria e esquecida sobre os meus seios entre nós dois.
- Spoiler:
- AUROX
A carne do homem era macia, suculenta.
Foi uma surpresa o fato de ter sido tão fácil destruí-lo e fazer o seu coração fraco parar de
bater. - Leve-me para o norte de Tulsa. Eu quero sair à noite - ela
Foi com essa ordem que a noite deles começou. - Sim, Deusa - ele respondera
instantaneamente, saindo cheio de vida do canto da varanda no topo do prédio no qual ele tinha sido
feito. - Não me chame de Deusa. Chama-me... - ela parecera contemplativa. - Sacerdotisa - seus lábios
carnudos, rubros e brilhantes se curvaram em um sorriso. - Acho que é melhor se todo mundo me
chamar simplesmente de Sacerdotisa, pelo menos por um breve período. Aurox cruzou sua mão em
punho sobre o peito, fazendo um gesto que ele instintivamente sabia ser de um tempo antigo, embora,
de algum modo, achasse aquilo estranho e forçado. - Sim, Sacerdotisa. A Sacerdotisa passara rápido
por ele, gesticulando imperiosamente para que ele a seguisse. E ele a seguira. Ele havia sido criado
para segui-la. Para receber suas ordens. Para obedecer aos seus comandos. Então, entraram em uma
coisa que a Sacerdotisa chamara de carro, e o mundo voara. A Sacerdotisa ordenou que ele entendesse
o funcionamento daquilo.
Ele observara e aprenderam como ela tinha mandado. Pararam e saíram do carro. A rua tinha
um cheiro de morte, podridão, depravação e imundice. - Sacerdotisa, este lugar não... - Proteja-me! -
ela respondeu rispidamente. - Mas não seja protetor! Eu sempre vou aonde quero, quando quero e
faço exatamente o que quero. É o seu trabalho, ou melhor, o seu propósito, derrotar os meus inimigos.
E criar inimigos é o meu destino. Observe. Reaja quando eu ordenar que você me proteja. Isso é tudo o
que eu exijo de você. - Sim, Sacerdotisa - ele disse. O mundo moderno era um lugar confuso. Tantos
sons inconstantes. Tanta coisa que ele não conhecia. Ele faria como a Sacerdotisa ordenara. Ele iria
cumprir o propósito para o qual fora criado... Um homem deu um passo para frente, bloqueando o
caminho da Sacerdotisa. - Você é bonita demais para estar aqui neste beco tão tarde só com um garoto
para te acompanhar - os olhos dele se arregalaram quando ele viu as tatuagens da Sacerdotisa. - Então,
vampira, você deu uma parada aqui para usar esse garoto como um lanchinho, é? Que tal você me dar
essa bolsa e então eu e você vamos falar como é estar com um homem de verdade, hein? A
Sacerdotisa suspirou e pareceu entediada. - Você está errado em ambas as suposições: eu não sou
simplesmente uma vampira e ele não é um garoto. -Ei, o que você quer dizer com isso? A Sacerdotisa
ignorou o homem e olhou por sobre o ombro para Aurox. - Agora você deve me proteger. Mostre-me
que tipo de arma eu comando. Ele a obedeceu sem pestanejar. Aurox se aproximou do homem sem
hesitar. Com um movimento rápido, Aurox cravou seus polegares nos olhos arregalados do homem, o
que fez a gritaria começar. O pavor do homem o inundou, alimentando-o. Tão simplesmente quanto
respirar, Aurox inalou a dor que ele estava causando. O poder do medo do homem se dilatou dentro
dele, latejando quente e frio. Aurox sentiu suas mãos se endurecendo, mudando, tornando-se algo
mais. O que eram dedos normais viraram garras. Ele as puxou dos olhos do homem quando o sangue
começou a vazar dos ouvidos dele. Com o poder emprestado da dor e do medo, Aurox levantou o
homem, e o arremessou com força contra o muro do prédio mais próximo. O homem berrou de novo.
Que excitação maravilhosa, e terrível! Aurox mais ondulações de transformação pelo seu corpo. Meros
pés humanos tornaram-se patas de diabo. Os músculos de suas pernas se engrossaram. Seu peito
inchou e rasgou a camiseta que ele estava usando. E o melhor de tudo, Aurox sentiu chifres grossos e
mortais que cresceram na sua testa. No momento em que três amigos do homem correram para o
beco para ajudá-lo, ele tinha parado de gritar. Aurox deixou o homem na sujeira e se virou para se
colocar entre a Sacerdotisa e aqueles que acreditam que poderiam causar algum mal a ela. - Que
merda é essa? - o primeiro homem chegou correndo e parou de repente. - Nunca vi nada parecido com
isso - disse o segundo homem. Aurox já estava absorvendo o medo que começava a irradiar deles. Sua
pele pulsava com aquele fogo frio. - Aquilo são chifres? Ah, merda, não! Tô fora! - o terceiro homem se
virou e correu por onde tinha vindo. Os outros dois começaram a se afastar devagar, com os olhos
arregalados, em choque e olhando fixamente. Aurox se virou para a Sacerdotisa. - Qual é a ordem? -
em alguma parte distante de sua mente, ele ficou surpreso com o som da sua voz, em como ela tinha
ficado tão gutural, tão bestial. - A dor deixa você mais forte - a Sacerdotisa pareceu satisfeita - E
diferente, mais feroz - ela olhou para os dois homens em retirada e o seu carnudo lábio superior se
levantou em um riso de escárnio. Não é interessante? Mate-os. Aurox se moveu tão rapidamente que
o homem mais próximo não teve nenhuma chance de escapar. Ele espetou o peito do homem com
seus chifres e o levantou, fazendo ele se debater, berrar e sujar as próprias calças de medo. Isso
deixou Aurox ainda mais poderoso. Com uma forte sacudida de cabeça, o homem espetado voou para
a parede e depois para o chão, encolhido e silencioso, ao lado do primeiro homem. O outro homem
não fugiu. Em vez disso, ele pegou uma faca longa e de aparência perigosa e arremeteu contra Aurox.
Aurox fez uma finta para o lado e então, quando o homem se desequilibrou, ele pisou com força com
sua pata sobre o pé dele, rasgando o seu rosto enquanto o homem caía para frente. Com a respiração
ofegante, Aurox olhou os corpos dos seus inimigos derrotados. Ele se voltou para a Sacerdotisa. -
Muito bem - ela disse sem emoção na voz - Vamos sair deste lugar antes que as autoridades apareçam.
Aurox a seguiu. Ele andou pesarosamente, suas patas escavavam sulcos no beco sujo. Fechou suas
garras em punho ao seu lado, enquanto tentava compreender a tempestade emocional que fluía pelo
seu corpo, levando com ela o poder que havia alimentado o seu frenesi de combate. Fraco. Ele se
sentia fraco. E mais. Havia algo mais. - O que é? - ela perguntou de modo ríspido quando ele hesitou
antes de entrar no carro de novo. Ele balançou a cabeça. - Não sei. Eu me sinto... Ela gargalhou. - Você
não sente absolutamente nada. Você obviamente está pensando demais nisso. Minha faca não sente.
Meu revólver não sente. Você é minha arma; você mata. Lide com isso. - Sim, Sacerdotisa - Aurox
entrou no carro e deixou o mundo ficar para trás em ritmo acelerado. Eu não penso. Eu não sinto. Eu
sou uma arma. - Por que você está parado aqui olhando para mim? - a Sacerdotisa perguntou a ele,
encarando-o com seus gélidos olhos verdes.
- Eu aguardo as suas ordens, Sacerdotisa - ele respondeu automaticamente, pensando em como
era possível que ele a tivesse desagradado. Eles tinham acabado de voltar para a cobertura no alto do
majestoso edifício chamado Mayo. Aurox havia andado até a varanda e simplesmente ficara ali parado,
em silêncio, olhando para a Sacerdotisa. Ela expirou o ar com força. - Eu não tenho nenhuma ordem
para você neste momento. E você precisa ficar sempre me encarando? Aurox olhou para longe,
focando nas luzes da cidade e em como elas brilhavam de modo atraente contra o céu da noite. - Eu
aguardo suas ordens Sacerdotisa - ele repetiu. - Ah, por todos os deuses! Quem iria imaginar que o
Receptáculo criado para mim seria tão idiota quanto bonito? Aurox sentia a mudança na atmosfera
antes que as Trevas se materializassem da fumaça, da sombra e da noite. - Idiota bonito e mortal... A
voz ressoou na sua cabeça. O enorme touro branco tomou forma diante dele. Seu hálito era fétido,
ainda que doce. Seu olhar era horrível e maravilhoso ao mesmo tempo. Ele era mistério, magia e caos
juntos. Aurox se ajoelhou na frente da criatura. - Levante-se e vá para trás... - ela balançou a mão,
dispensando-o com um gesto em direção ás sombras do canto mais distante da varanda. - Não, prefiro
que ele fique. Eu tenho prazer em observar minhas criações. Aurox não sabia o que dizer. Essa criatura
comandava a sua atenção, mas a Sacerdotisa comandava o seu corpo. - Criações? - a Sacerdotisa
colocou uma ênfase especial no final da palavra enquanto ela se movia languidamente em direção ao
touro corpulento. - Você sempre cria presentes como esses para seus seguidores? A risada do touro foi
horrível, mas Aurox percebeu que a Sacerdotisa não se sobressaltou nem um pouco - em vez disso, ela
parecia ser atraída cada vez mais para perto do animal gigantesco enquanto ele falava. - Que
interessante! Você está mesmo me questionando! Você está com ciúmes, minha cara impetuosa?
A Sacerdotisa acariciou os chifres do touro. - Tenho motivos para estar? O touro a acariciou com
seu focinho. Onde ele tocou a Sacerdotisa, a seda do vestido dela se enrugou, expondo a carne macia e
nua que estava por baixo. -Diga-me, qual você acha que é o propósito do meu presente a você?"- o
touro respondeu à pergunta da Sacerdotisa com outra pergunta". A Sacerdotisa piscou e balançou a
cabeça, como se estivesse confusa. Então o olhar dela encontrou Aurox, ainda ajoelhado. - Meu
mestre, o propósito dele é proteção, e eu estou pronta para o que você ordenar para agradecer. - Eu
vou aceitar suas deliciosas oferendas, mas eu devo explicar que Aurox não é só arma de proteção.
Aurox tem um propósito, que é criar o caos. A Sacerdotisa inspirou profundamente, em choque. -
Verdade? - ela perguntou com uma voz suave e reverente. - Através dessa única criatura eu posso
comandar o caos? Os olhos brancos do touro pareciam à lua se pondo. - Verdade. Ele é, de fato, uma
única criatura, mas seu poder é vasto. Ele tem a capacidade de deixar o desastre no seu rastro. Ele é o
Receptáculo, que é a manifestação dos seus sonhos mais profundos, e eles não são o mais completo e
absoluto caos? - Sim, ah, sim - a Sacerdotisa suspirou as palavras. Ela se inclinou contra o pescoço do
touro, acariciando seu dorso. - Ah, e o que você vai fazer com o caos agora que ele está sob seu
comando? Você vai botar abaixo as cidades dos humanos e governar como minha rainha? O sorriso da
Sacerdotisa era bonito e horrível. - Rainha não. Deusa. - Deusa? Mas já há uma Deusa dos vampiros.
Você sabe muito bem disso. Você já esteve a serviço dela. - Você quer dizer Nyx? A Deusa que permite
que seus subordinados façam escolhas e tenham vontade própria? A Deusa que não interfere porque
acredita com tanta força no livre-arbítrio?
Aurox achou que podia ouvir um sorriso na voz da besta e ficou imaginado como isso era
possível. - Sim, eu me refiro a Nyx, Deusa dos vampiros e da noite. Você usaria o caos para desafiá-la? -
Não. Eu usaria o caos para derrotá-la. E se o caos ameaçar a estrutura do mundo? Nyx não iria intervir
e desafiar suas próprias regras para salvar seus filhos? E fazendo isso a Deusa não iria rescindir a sua lei
que concede o livre-arbítrio aos humanos e trair a si mesma? O que acontecerá então ao seu divino
reinado se Nyx mudar o que ele está destinado a ser? - Eu não posso dizer, já que isso nunca aconteceu
antes - o touro bufou como se tivesse se divertindo. - Mas é uma questão surpreendentemente
interessante, e você sabe o quanto eu gosto de ser surpreendido. - Eu apenas espero poder continuar a
surpreendê-lo muitas e muitas vezes, meu mestre. - Apenas é uma palavra tão pequena... - o touro
disse. Aurox continuou ajoelhado na varanda muito tempo depois da à Sacerdotisa e o touro terem
partido, deixando-o de lado e esquecido. Ele ficou onde havia sido deixado, encarando o céu.
- Spoiler:
- ZOYE
- Um micro-ônibus escolar? Serio? - tudo o que eu podia fazer era balançar a cabeça e olhar
para aquela coisa amarela e atarracada com letras pretas recém-pintadas nas laterais, onde se lia
Morada da Noite. - Quero dizer, legal que o meu telefonema para Thanatos funcionou tão rápido e que
a gente conseguiu permissão para voltar à escola, mas um micro-ônibus escolar? - Gêmea! Eles
mandaram o micro-ônibus dos retardados para a gente! - Erin disse, dando risadinhas. - Gêmea isso é
muito maldoso - Shaunee falou. - Eu sei Gêmea. Não acredito que Neferet seja tão maldosa a ponto de
enviar o micro-ônibus dos retardados para a gente - Erin continuou. - Não, eu não quero dizer que
Neferet é maldosa. Quero dizer que é maldoso dizer retardados - Shaunee explicou, revirando os olhos
para a sua gêmea. - Acho que Shanee está correta e vocês deveriam pensar em expandir o seu
vocabulário. Vocês estão usando o maldoso muitas vezes, é redundante - Damien afirmou. Shaunee,
Erin, Stevie Rea, Rephaim e eu encaramos Damiem. Eu sabia que todos nós estávamos pensando que
era ótimo ouvi-lo obcecado por vocabulários de novo. Mas nós não queríamos dizer nada, pois
estávamos todos com medo de que ele pudesse explodir em lagrimas e se afundar novamente na
depressão que o assombrava desde a morte de Jack.
Aphrodite e Darius escolheram aquele momento para emergir do porão da estação e, como
sempre, Aphrodite atravessou a ponte entre a decência e o desastre invocando a sua única regra
verdadeira e experimentada: importe-se com as Aparências. - Ah, que merda. Eu não vou entrar nisso.
O micro-ônibus é para os retardados - Aphrodite falou, bufando e jogando os cabelos. - Ei, pessoal, não
é tão ruim assim. Quero dizer, está na cara que é um ônibus novo. Olhem só as letras fresquinhas de
Morada da Noite - Stevie Rea observou. - Poderia muito bem estar escrito suicídio social ali - Aphrodite
retrucou, franzindo a testa para Stevie Rea. - Não vou deixar você cortar o meu barato. Eu gosto da
escola - Stevie Rea disse. Ela deu um passo e subiu no ônibus, sorrindo para o guerreiro Filho de Erebus
que havia aberto a porta para ela com uma cara seria. - Sacerdotisa - ele a saudou sombriamente com
um aceno de cabeça e então, ignorando totalmente o nosso próprio Filho de Erebus, Darius, ele olhou
para mim. Com um comprimento de cabeça ainda mais rápido, ele disse: - Zoey, eu devo comunicar
você e Stevie Rea sobre a Reunião do Conselho da escola, que vai se reunir em trinta minutos. Vocês
duas devem comparecer. - Certo. Stark está avisando a todos que você está aqui, então poderemos
partir em um segundo - eu disse sorrindo para ele, como se o seu rosto não parecesse uma nuvem de
tempestade. - Ei, pessoal, ainda tem cheirinho de novo aqui dentro - Stevie Rea gritou. Eu podia ver
seus cachinhos loiros e curtos balançando enquanto ela admirava o interior do veículo. Então ela saiu
de novo saltando alguns degraus para pegar a mão de Rephaim e sorrir para ele. - Você quer se sentar
no banco de trás comigo? Tem bastante molejo! - É sério - Aphrodite falou. - Esse micro-ônibus é
perfeito para você; você é uma retardada. E eu odeio ser aquela que vai revelar isso a você...
*Nos Estados Unidos, um micro-ônibus menor que o ônibus escolar normal é usado para
transportar deficientes e alunos com problemas de comportamento. Na gíria politicamente incorreta, é
chamado de retad bus. (NT)
Ah, espere, isso é mentira, eu não odeio não... Mas mesmo que o Conselho Supremo dos
Vampiros tivesse pressionado Neferet, forçando-a a nos levar de volta para a Morada da Noite, o
menino-pássaro ainda não é bem-vindo lá. Você esqueceu, no êxtase do que quer que vocês dois
andaram fazendo durante os poucos segundos entre o pôr do sol e agora, que ele era um pássaro? Eu
vi Stevie Rea apertar com mais força a mão de Rephaim.
- Vou ter que te informar que passaram mais de poucos segundos desde o pôr do sol, que não é
da tua conta o que a gente andou fazendo e que Rephaim vai para a escola. Assim como todos nós.
Aphrodite levantou as suas sobrancelhas loiras. - Você não está brincando, está? - Não - Stevie Rea
disse com firmeza. - E você deveria entender isso mais do que qualquer um. - Eu? Entender? De que
merda você esta falando? - Você não é uma novata, nem uma vermelha nem normal. Você não é
vampira. Talvez você não seja nem humana. - Porque ela é uma bruxa - eu ouvi Shaunee sussurrar. - Do
inferno - Erin sussurrou de volta. Aphrodite franziu os olhos para as gêmeas, mas Stevie Rea ainda não
tinha acabado. - Assim como Rephaim, você é algo que não é muito normal, mas Nyx deu a sua benção
a você, mesmo que ninguém no mundo entenda por que ela fez isso. Seja como for, você vai para a
escola. Eu vou para a escola. E Rephaim também vai. Fim. - O que Stevie Rea disse faz sentido - Stark
falou enquanto se juntava a nós no estacionamento da estação, com o resto dos novatos vermelhos
seguindo atrás dele. - Neferet não vai gostar disso, mas Nyx perdoou e abençoou Rephaim. - Na frente
da escola inteira - Stevie Rea acrescentou rapidamente. - Eles sabem disso - Rephaim murmurou para
Stevie Rea. Então ele desviou os olhos para nós, finalmente focando em mim. - O que você acha? - ele
me surpreendeu ao perguntar. - Eu devo ir para a Morada da Noite ou isso iria apenas causar
problemas sem razão? Todos olharam embasbacados para mim. Com uma rápida olhada para o rosto
inflexível do guerreiro Filho de Erebus no ônibus, eu falei: - Ahn, vocês não querem ir entrando? Eu
preciso falar com o meu... ahn... - parei de falar e fiz um gesto que englobava Aphrodite, Stevie Rea, e o
resto dos meus amigos mais próximos. - O seu círculo - Stevie Rea completou, sorrindo para mim. -
Você quer falar com o seu círculo.
- E com o seu círculo acessório - Damiem acrescentou, indicando com a cabeça Aphrodite,
Darius e Kramisha. Eu abri o sorriso. - Gostei disso! Certo, vocês podem ir entrando no ônibus
enquanto eu falo com o meu círculo principal e com o meu círculo acessório, por favor? - Não tô certa
se eu gostei de ser chamada de acessório - Kramisha falou, franzindo os olhos para mim. - Isso
significa... - Stevie Rea começou a explicar, mas Kramisha a interrompeu balançando a cabeça. - Eu sei
o que isso que dizer. Só tô falando que não sei se gostei. - você pode escrever sobre isso no seu diário
mais tarde e agora calar a boca e seguir Zoey, para acabarmos logo com isso? - Aphrodite disparou
enquanto Kramisha respirou fundo e olhou com raiva pra ela. - E só para registrar - ela apontou para
todos menos para Darius. - Você são um bando de nerds. Eu sou o símbolo da popularidade e da
perfeição. As gêmeas pareceram prestes a retrucar Aphrodite, então eu disse: - Pessoal foco. A questão
de Rephaim é importante - felizmente, aquilo calou todo mundo, e eu fiz um gesto para que os meus
círculos principal e acessório me seguissem pela calçada até um ponto em que não pudéssemos ser
ouvidos pelos novatos, que estavam subindo no ônibus. E eu me esforcei realmente para pensar na
questão muito importante de Rephaim. Minha mente estava sentimental. A noite passada tinha sido
horrível. Olhei para Stark e senti minhas bochechas esquentarem. Tudo bem vai, a noite só não foi
totalmente horrível, mas, mesmo assim, questões difíceis enchiam a minha cabeça. Dei uma sacudida
mentalmente em mim mesma. Eu não era mais uma criança. Eu era a primeira Grande Sacerdotisa
Novata e todo esse pessoal me olhava e esperava que eu soubesse as respostas certas (bem, para
tudo, menos Geometria, traduções de espanhol e sobre como estacionar paralelamente aos outros
carros). Por favor, Nyx, deixe-me dizer a coisa certa. Fiz uma prece rápida e silenciosa e então
encontrei o olhar de Rephaim. Subitamente, percebi que não era da minha resposta que nós
precisávamos. - O que você quer? - perguntei a ele.
- Bem, ele quer....- Stevie Rea começou, mas minha mãe levantada interrompeu minha melhor
amiga. - Não - eu disse. - Não pode ser o que você quer para ele. Eu preciso da resposta de Rephaim. E
então, qual é a sua resposta? O que você quer? - repeti. Rephaim sustentou o meu olhar. - Eu quero ser
normal - ele respondeu. Aphrodite bufou. - Infelizmente, ser normal e ser adolescente significa ir para
a chatice da escola. - Ir para a escola não é chato - Damiem disse e então olhou para Rephaim. - Mas
ela está certa sobre a parte normal. Ir para a escola é o que garotos normais fazem. - É - Shaunee
concordou. - É chato, mas é verdade - Erin falou. - Apesar de que é um incrível desfile de moda. - Você
está certa, gêmea - Shaunee disse. - O que isso significa? - Rephaim perguntou a Stevie Rea. Ela sorriu
para ele. - Basicamente, que você deve ir à escola com a gente. Ele sorriu de volta para ela, com o rosto
cheio de amor e ternura. Quando ele olhou para mim, aquela maravilhosa expressão ainda estava lá, e
eu não pude deixar de sorrir para ele. - Se ser normal significa ir para a escola, então é isso que eu
realmente gostaria de fazer. Se isso não causar muitos problemas. - Isso vai causar problemas, sem a
menor dúvida - Darius afirmou. - Você acha que ele não deveria ir? - perguntei. - Eu não disse isso.
Concordo com você que a escolha é dele, a decisão é dele, mas, Rephaim, você deve entender que
seria mais fácil se você escolhesse ficar aqui, fora do caminho, pelo menos até nós descobrirmos quais
serão os próximos passos de Neferet e Kalona.
Pensei ter visto Rephaim se encolher com a menção ao seu pai, mas ele concordou e
respondeu: - Eu realmente entendo, mas estou cansado de me esconder nas sombras - ele olha para
Stevie Rea e depois para nós de novo. - E Stevie Rea pode precisar de mim. - Certo vocês sabem que
essa coisa toda de "vamos deixar o menino-pássaro decidir" e "Stevie Rea pode precisar de mim" é
toda bonitinha na teoria, mas na prática vamos entrar em um campus onde a louca da Grande
Sacerdotisa morcegona nos odeia e vai usar qualquer coisa que ela tenha para derrotar a nós e
principalmente a você, Z. Isso sem falar que Dragon, o líder dos guerreiros Filhos de Erebus,
definitivamente não está agindo bem desde que sua companheira foi morta pelo cara que nós vamos
levar de volta para o campus. Neferet vai usar Rephaim contra nós. Dragon vai apoiá-la. Ela vai jogar
merda no ventilador - Aphrodite afirmou. - Bem, não vai ser a primeira vez - eu ponderei. - Ahn, eu
posso dizer uma coisa? - a mão de Damien estava levantada, como se ele estivesse em sala de aula e
quisesse ser chamado. - É claro, querido, e você não precisa levantar a mão - eu respondi. - Ah,
obrigado. O que eu quero dizer é que nós precisamos nos lembrar de que Nyx, quando apareceu na
Morada da Noite, perdoou e abençoou Rephaim. Assim, basicamente ela nos deu permissão para
incluir Rephaim no nosso mundo. Neferet não pode ir contra isso, pelo menos não abertamente. Nem
Dragon. O quanto eles não vão gostar não é o ponto. - Mas eles já foram contra isso - Stark lembrou. -
Neferet perguntou a Dragon se ele iria aceitá-lo e ele disse que não, e então ela o expulsou do campus.
Stevie Rea chamou aquilo de papo furado, e foi por isso que todos nós acabamos indo embora. - É, e só
porque o Conselho Supremo deu um jeito de pressionar Neferet para nos deixar voltar à escola, isso
não significa que nós vamos realmente ser aceitos. Eu posso juras que Dragon e provavelmente um
monte de outras pessoas não vão ficar numa boa com isso - Aphrodite remexeu seus dedos em direção
a Rephaim. Damiem falou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. - Bem, a verdade é que nem
Neferet nem Dragon podem suplantar a vontade da Deusa.
- Suplan... o quê? - Shaunee perguntou. - ...tar o quê? - Erin acrescentou. - Significa se sobrepor,
tomar o lugar - Stevie Rea explicou por Damien. - E esse é realmente um ponto interessante, Damien.
Ninguém pode suplantar a Deusa, nem mesmo uma Grande Sacerdotisa. - Vocês poderiam imaginar o
que as vampiras irritadiças do Conselho Supremo diriam sobre isso? - Aphrodite revirou os olhos. - Elas
são nervosinhas. Todas. Eu pisquei surpresa e tive uma vontade súbita de abraçar Aphrodite. Bem, a
vontade passou rápido, mas mesmo assim fiquei animada. -Aphrodite, você é um gênio! E Damien
também é! - eu disse. - É claro que eu sou - Aphrodite disse toda convencida. - Você vai falar sobre
Neferet e Dragon ao Conselho Supremo, não vai? - Damien falou. - Eu acho que "falar sobre eles" não é
o modo correto de colocar a questão. Seu notebook está com você, não está? - perguntei. Damien
passou a mão sobre a bolsa masculina pendurada no seu ombro. - É claro. Está na minha mochila. -
Bolsa masculina - Shaunee corrigiu. - Só falamos por falar - Erin acrescentou. - É uma mochila satchel
europeia - Damien disse com firmeza. - Se a coisa tem penas... - Erin falou. - ... e faz quá-quá - Shaunee
completou. - Seja o que for, estou feliz que você está com o seu mulher - eu me adiantei antes
que Damien falasse um daquelas palavras complicadas para elas. - Você já baixou o Skype nele, certo? -
Sim - ele respondeu. - Ótimo. Eu preciso dele emprestado para a Reunião do Conselho, se você não se
importar. - Sem problemas - Damien concordou, levantando as sobrancelhas com cara de interrogação
para mim.
- O que você está planejando? - Stevie Rea fez a pergunta por ele. - Bem, quando eu falei com
Thanatos sobre nos ajudar a voltar para a escola, eu não mencionei aquele pequeno detalhe de que
nós estamos criando uma espécie de filial da Morada da Noite aqui, mas que nós ainda vamos
continuar indo para a aula e tal na nossa Morada da Noite original. - Nós precisamos pensar em um
nome incrível para o nosso lugar - Shaunee disse. - Aaaah, você está certíssima, gêmea - Erin se
animou. - Ei, aqui é a estação, então que tal Morada da Noite Pot Lot? - Shaunee sugeriu. Eu olhei para
elas. Balancei minha cabeça e disse com firmeza: - Não para Pot Lot - então voltei ao assunto original. -
Mas eu realmente preciso fazer uma conferencia do Skype com o Conselho Supremo dos Vampiros
para obter permissão para o que queremos fazer. Uma Reunião do Conselho da escola parece uma boa
hora para fazer isso, especialmente porque eu tenho certeza de que Neferet vai adorar se eu pedir
para ela ser testemunha da minha chamada. - Z., esse parece ser um plano de merda. Neferet vai
adorar falar com o Conselho Supremo e descobrir um jeito de distorcer tudo o que você disser para
fazer você parecer uma adolescente insana - Aphrodite opinou. - Esse é mais ou menos o meu ponto -
eu respondi. - Eu não vou ser a adolescente insana. Eu vou ser a Grande Sacerdotisa Novata que vai dar
ao Conselho Supremo todos os detalhes sobre o dom incrível e milagroso que Nyx deu ao Consorte da
Grande Sacerdotisa Vermelha. Rephaim, e sobre como ele está excitado por começar a estudar na
Morada da Noite de Tulsa. Tenho certeza de que elas vão até querer cumprimentar Neferet por ela ser
uma Grande Sacerdotisa tão incrível que consegue lidar com todas as mudanças que estão
acontecendo aqui. - Isso é diabólico. Eu gosto - Aphrodite falou. - Assim você coloca Neferet e até
Dragon em uma posição na qual, se eles disserem "nos não vamos aceitar o menino-pássaro de jeito
nenhum" ou mesmo se reclamarem um pouco por causa disso, vão parecer super do mal depois da
aparição e do milagre do Nyx. - Mesmo assim, esse não será um caminho fácil - Stark disse.
Rephaim olhou-o com firmeza. - Não importa o quanto seja difícil, é um caminho melhor do que
aquele que leva à escuridão, ao ódio e à morte. E acho que você exatamente o que eu quero dizer. - Eu
sei - Stark respondeu, olhando de volta para ele sem vacilar. - Eu também sei - Stevie Rea afirmou. - E
eu também - acrescentei. - Então nós estamos de acordo. Rephaim volta para a Morada da Noite
conosco - Darius disse. - Espera aí!? Isso significa que a gente tem que entrar naquele maldito microônibus?
- Aphrodite perguntou. - Sim! - todos nós respondemos juntos. Rindo e me sentindo leve como
não me sentia há dias, subi no ônibus com meus amigos e cutuquei Stark com meu ombro quando nós
nos sentamos. Ele mal olhou para mim. Foi então que percebi que ele não tinha falado muito comigo
(nem com ninguém) desde que a gente tinha acordado. Lembrando de como nós estivéramos próximos
- de como ele havia me tocado e feito o mundo voltar para o lugar de novo - , acabei mordendo o lábio
e me sentindo confusa. Dei mais uma olhada para Stark. Ele estava encarando a janela. Parecia
cansado. Muito cansado. - Ei, o que há com você? - perguntei quando o ônibus arrancou pela Cincinnati
Street em direção ao centro. - Comigo? Nada. - É sério, você parece muito cansado. Você esta se
sentindo bem? - Zoey, você me deixou acordado e me manteve alerta na maior parte do dia de ontem.
Daí você fez aquela ligação para Thanatos para resolver toda essa coisa da volta à escola, o que não foi
exatamente uma conversa calma e sossegada. Eu tinha acabado de dormi quando você gritou qualquer
coisa e me acordou de novo. Fazer amor foi ótimo - ele fez uma pausa, sorriu por um segundo e quase
pareceu normal. Então ele abriu a boca e estragou tudo, dizendo: Depois de tudo, você se remexeu
muito de um lado para o outro antes de apagar. Não consegui dormi de novo. Então, estou cansado. É
isso. Pisquei surpresa para ele. Duas vezes. E tentei não me sentir como se ele tivesse acabado de me
dar um tapa na cara. Mantendo a voz baixa porque eu não queria que meus amigos ouvissem, eu disse:
- Tudo bem, deixando de lado toda a coisa de eu ter ligar para Thanatos para a gente poder
voltar para a escola, o que é que eu deveria ter feito? Porque sou a Grande Sacerdotisa, e o fato de que
você veio para cima de mim quando tudo o que eu pretendia era deitar de conchinha e dormir, minha
mãe está morta, Stark. Nyx me deixou vê-la entrando no Mundo do Além. Como neste exato momento
eu não sei como nem por que isso aconteceu, estou me esforçando muito para ficar o mais normal
possível. Eu ainda nem falei com minha avó. - É verdade, você não falou. Eu disse que você deveria ter
ligado para ela na mesma hora ou pelo menos ligado para a sua mãe. E se tudo foi apenas um sonho?
Eu olhei para Stark sem acreditar no que eu ouvia, lutando para manter minha voz e minhas emoções
sobre controle. –
*Estação em inglês e "depot"; "pot" é uma gíria para maconha e "lot" quer dizer área, terreno.
(NT)
Você é a única pessoa no mundo que deveria entender mais do que ninguém que eu sei a
diferença entre ver o Mundo do Além e sonhar com ele. - Sim, eu sei, mas...
-Mas você está dizendo que eu deveria passar por isso tudo sem perturbar o seu precioso sono?
Ah, a não ser que seja para fazer sexo com você! Fechei minha boca e tentei parecer normal quando vi
Aphrodite se virar e dar uma olhada para mim como um ponto de interrogação no rosto. Stark soltou
um longo suspiro. - Não, não é isso o que eu quero dizer. Desculpe-me Z. - Então ele pegou minhas
mãos. - É sério. Eu estou apenas parecendo um idiota. - Sim, está mesmo. - Desculpe-me mesmo - ele
disse e então cutucou o meu ombro com o dele. - A gente pode apagar essa conversa? - Pode -
respondi. - Então vou começar de novo: estou apenas cansado e isso está fazendo com que eu seja um
imbecil. E sobre a sua mãe, nós não sabemos o que realmente aconteceu e isso está nos deixando
tensos. Mas. Seja como for, eu te amo, mesmo que seja um idiota. Melhorou? - Melhorou - respondi.
Ainda deixando que ele segurasse a minha mãe, olhei pela janela quando viramos à esquerda
na Fifteenh Street, passamos por Gumpy's Garden, que sempre deixava o ar com cheiro de pinhão, e
seguimos pela Cherry Street. Na hora em que a gente estava na Utica, cruzando a Twenty-fidrt, eu já
havia esquecido a briga e só tinha na cabeça a preocupação com minha mãe e com minha avó. E estava
pensando se Stark poderia estar certo de questionar o que eu pensei ter sido uma visão. Quero dizer...
Eu ainda não tinha falado com vovó. E se tudo não tivesse sido um sonho ruim... - É sempre tão bonito
- a voz de Damien veio do banco da frente, que ele tinha escolhido automaticamente ao entrar no
ônibus. -Olhando daqui, é difícil acreditar que coisas horríveis e dolorosas possam ter acontecido lá. Eu
ouvi o soluço na sua voz, apertei a mão de Stark antes de soltála e fui sacolejando pelo corredor para
sentar ao lado de Damien. - Ei - eu disse, deslizando meu braço entre o dele. - Você precisa se lembrar
de coisas maravilhosas e do amor que aconteceu ali também. Nunca se esqueça de que ali que você
conheceu Jack e se apaixonou por ele. - Como você está lidando com a falta de Heath? - Sinto saudade
dele - eu disse honestamente. Então algo me fez acrescentar: - Mas eu não quero ficar como Dragon,
devorada pela tristeza. - Nem eu - Damien falou suavemente. - Mesmo que às vezes seja difícil não
ficar assim. - É tudo muito recente. Apertando os lábios para não chorar, ele concordou com a cabeça. -
Você vai superar - acrescentei. - E eu também vou. Nós vamos. Juntos. - eu disse com firmeza. Nesse
momento, atravessamos o portão de ferro que tinha o símbolo de uma lua crescente no meio, e fomos
em direção à entrada lateral da escola. - A Reunião do Conselho vai começar às sete e meia - o
guerreiro Filho de Erebus disse quando o micro-ônibus parou. - As aulas começam as oito em ponto,
como sempre.
- Obrigada - eu disse, como se ele tivesse sido amigável (ou pelo menos respeitoso). Então olhei
para meu telefone: hmin. Faltavam dez minutos para a reunião e quarenta para as aulas começarem.
Eu me levantei e olhei o grupo de garotos nervosos. - Vão para os seus antigos quartos e esperem lá
até serem informados sobre o que fazer. Stevie Rea, Stark e eu vamos para a Reunião do Conselho e,
como diriam na Ilha de Skye, daremos uma solução para o horário escolar de Rephaim e para o de
vocês. - E eu? Não vou para a reunião? - Kramisha perguntou. - Normalmente é um tédio, mas aposto
que hoje vai ser melhor. - Você está certa - respondi- Já está na hora de eles incluírem você, além de
mim e Stevie Rea. - Para onde eu vou? - Rephaim perguntou do fundo do ônibus. Eu estava pensando,
tentando imaginar um lugar para onde ele pudesse ir, quando Damien se levantou ao meu lado. - Você
pode vir comigo, pelo menos por hoje. Se Zoey e Stevie Rea concordarem. Eu sorri para Damien. Acho
que eu nunca senti tanto orgulho dele. Todo mundo estava preocupado com ele, tratando-o como se
ele pudesse ficar histérico a qualquer momento, então, se ele ficasse ligado a Rephaim, ninguém iria
questionar o garoto - eles teriam medo de perturbar Damien. - Obrigada - eu disse. - É mesmo uma
ótima idéia Damien - Stevie Rea concordou. - Tudo certo então. Tentem agir normalmente - falei. -
Encontro vocês aqui de novo depois da escola. - Minha primeira aula é de Feitiços e Rituais - escutei
Aphrodite murmurar para Darius. - E quem dá essa aula é aquela vamp nova que parece ter doze anos.
Vai ser engraçado. - Lembre-se - Stevie Rae disse, dando um olhar duro para Aphrodite, que a ignorou
totalmente -, seja agradável. Nós saímos do micro-ônibus. Pude ver como foi difícil para Stevie Rae
deixar Rephaim ir embora com Damien. Não sabíamos no que ele poderia estar entrando, mas
tínhamos a noção de que as chances de ele ser tratado como o garoto que ele tanto queria ser eram de
pequenas a nulas.
Quando Stevie Rae, Stark, Kramisha e eu ficamos sozinhos, perguntei: -Prontos para entra na
cova do leão? - Eu tô achando que é mais como entrar em um ninho de vespas nojento - Kramisha
respondeu. - Meu eu tô pronta. - Eu também. Vamos agarrar o touro à unha e acabar logo com isso -
Stevie Rae afirmou. - Fechado - eu disse. - Fechado - eles repetiram. E andamos em direção a um futuro
que já estava fazendo o meu estômago se contrair, me dando a sensação de que um episódio agudo de
síndrome do intestino irritável podia me atingir a qualquer momento. Ai, que inferno.
*A síndrome do intestino irritável tem como sintomas dor abdominal aguda, diarréia, gases e
prisão de ventre, entre outros. (NT)
- Spoiler:
- KALONA
Ele não teve que voar longe para encontrar seus filhos. Kalona seguiu o fio da conexão que o
liga à sua prole. Meus filhos leais, ele pensou enquanto circundava os morros ondulados cobertos de
árvores da área menos habitada de Tulsa. No topo do cume mais alto, Kalona desceu do céu, voando
facilmente entre os galhos e desfolhados pelo inverno até parar no meio de uma pequena clareira. Em
volta dele, feitas nas próprias árvores, havia três construções de madeira, rústicas, mas robustas. O
olhar aguçado de Kalona viu quando, dentro das janelas, olhos vermelhos brilharam na sua direção. Ele
abriu os braços. -Sim, meus filhos, eu voltei! - o som de asas foi um bálsamo para a sua alma. Eles
saíram rápido das cabanas e se ajoelharam ao redor dele, curvando-se bastante, respeitosamente.
Kalona os contou; havia sete. - Onde estão os outros? Todos os Raven Mockers se agitaram inquietos,
mas apenas um rosto se voltou para cima para encarar o seu olhar e apenas uma voz sibilante
respondeu. - Essscondidosss no oessste. Perdidosss na área. Kalona observou seu filho, Nisroc,
comparando-o com aquele que ele sempre considerava seu filho favorito. Nisroc era quase tão
desenvolvido quanto Rephaim. Seu modo de falar era quase humano. Sua mente era quase perspicaz.
Mas era aquela quase, aquela linha tênue entre eles que havia feito de Rephaim o filho em quem
Kalona confiava e não Nisroc. Kalona cerrou e descerrou o maxilar. Ele havia sido tolo ao desperdiçar
tanta atenção apenas com Rephaim. Ele tinha muitos filhos para escolher e favorecer. Era Rephaim
quem tinha saído perdendo ao decidir partir. Rephaim só tinha um pai, e ele não iria conseguir
substituí-lo por uma Deusa ausente e uma vampira que nunca iria amá-lo de verdade.
- É bom que vocês estejam aqui - Kalona disse interromper os próprios pensamentos no seu
filho ausente. - Mas eu preferia que todos vocês tivessem ficado aguardando a minha volta. - Elesss
pegaram, eu não pude - Nisroc disse. - Rephaim morto... - Rephaim não está morto! - Kalona o cortou
rispidamente, fazendo Nisroc estremecer e abaixar a cabeça. O mortal alado fez uma pausa e
recuperou o autocontrole antes de continuar. - Apesar de que seria melhor para ele se ele estivesse
morto. - Pai? - Ele escolheu servir a Sacerdotisa vampira vermelha e à sua Deusa. O grupo de *****
Raven Mockers**** sibilou e se encolheu como se ele os tivesse golpeado. - Possível? Como? - Nisroc
perguntou. - É possível por causa das fêmeas e das suas manipulações - Kalona respondeu
sombriamente. Ele sabia muito bem como alguém podia ser uma presa fácil para elas. Ele inclusive
havia caído por... Subitamente, ao se dar conta do que estava dizendo, o imortal piscou e falou, mais
para si mesmo do que para seu filho: - Mas as manipulações delas não vão durar muito! - ele balançou
sua cabeça e quase sorriu. - Por que não pensei nisso antes? Rephaim vai se cansar de ser o animal da
Vermelha e, quando isso acontecer, ele vai perceber o erro que cometeu; um erro que não é
totalmente seu. A Vermelha o manipulou e o envenenou. Ela fez com que contra mim. Mas isso é
apenas temporário! Quando ela o rejeitou, porque no final das contas ela vai fazer isso, ele vai sair da
Morada da Noite e voltar para o meu... - Kalona cortou as próprias palavras, decidindo rápido. - Nisroc,
leve dois de seus irmãos com você. Volte para a Morada da Noite. Observe. Seja cuidadoso. Vigie
Rephaim e a Vermelha. Quando aparecer uma oportunidade, fale com ele. Diga que mesmo que ele
tenha cometido esse erro terrível e se afastado de mim... - Kalona fez uma pausa, cerrando o maxilar,
totalmente desconfortável com a tristeza e a solidão que o invadiam sempre que eles pensavam
demais na escolha de Rephaim. O imortal alado reordenou seus pensamentos, dominou seus
sentimentos e continuou a dar instruções para Nisroc. - Diga a Rephaim que, apesar de sua escolha ter
sido me deixar, ainda há um lugar esperando por ele ao meu lado, mas esse lugar terá mais utilidade se
ele permanecer na Morada da Noite, mesmo depois que ele quiser partir.
- Ele essspionar! - Nisroc disse, e os outros Raven Mockers refletiram sua excitação com suas
grasnadas características. -Ele vai, mas no momento ele pode não saber disso - Kalona falou. Não deve
ser visto por ninguém, exceto por Rephaim. - Não matar vampirosss? - Não, a menos que você seja
ameaçado; se isso acontecer, faça como quiser desde que não seja pego, e não mate nenhuma Grande
Sacerdotisa-Kalona falou devagar e claramente. - Nunca é bom provocar uma Deusa sem necessidade,
então as Grandes Sacerdotisas de Nyx não devem ser mortas - ele franziu a testa para Nisroc,
lembrando-se de seu filho que quase havia matado Zoey Redbird não muito tempo atrás e que tinha
morrido por causa disso. - Você entendeu as minhas ordens, Nisroc? - Sssim. Falar com ele eu vou.
Rephaim observar. Rephaim espionar. - Faca isso e volte antes que o amanhecer ilumine o céu. Voem
alto. Voem rápido. Voem silenciosamente. Sejam como o vento da noite. - Sssim, Pai. Kalona olhou em
volta para a floresta espessa, apreciando o fato de os seus filhos terem encontrado um lugar alto e
isolado para fazer o seu ninho. - Os humanos não vêm aqui? - ele perguntou. - Sssó caçadores, e não
maisss - Nisroc respondeu. Kalona levantou as sobrancelhas. - Vocês mataram humanos? - Ssssim.
Doisss - Nisroc se remexeu excitado. - Contra a pedra nósss jogamossss elesss. - ele apontou uma
pequena trilha na frente deles. Curioso, Kalona deu passos largos até a beirada do precipício para olhar
para baixo, onde as enormes linhas de transmissão que carregavam a magia elétrica do mundo
moderno se estendiam diante dele. Os humanos haviam limpado a área em volta dos altos pilares, de
modo que havia uma grossa faixa de terra que avançava no horizonte. A clareira havia deixado exposto
enorme afloramento rochoso de arenito de Oklahoma, pontiagudos e letais, projetando-se em direção
ao céu.
- Excelente - Kalona disse, concordando com a cabeça em sinal de aprovação. - Vocês fizeram
parecer um acidente. Muito bom. - Então ele se voltou para a clareira e para seus filhos, que se
aglomeravam ali com todas as atenções focadas somente nele. - Este lugar foi bem escolhido. Quero
todos os meus filhos aqui em volta de mim. Nisroc vá para a Morada da Noite de Tulsa. Faça o que eu
ordenei. Quanto ao resto de vocês, voem para o oeste. Chamem seus irmãos, tragam todos aqui para
mim. Aqui nós vamos esperar. Aqui nós vamos observar. Aqui nós vamos nos preparar. - Preparar?
Para que, Pai? - Nisroc perguntou, inclinando a cabeça. Kalona se lembrou de como o seu corpo havia
sido aprisionado e a sua alma arrancada dele e enviada para o Mundo do Além. Ele se lembrou de
como, após a sua volta, ela o havia açoitado e o escravisionado, além de tê-lo tratado como se ele
fosse sua propriedade. - Nós vamos nos preparar para destruir Neferet - ele afirmou.
Todo mundo olhava para ele com desconfiança. Rephaim odiava isso, mas entendia. Ele havia
sido um inimigo. Ele tinha matado um deles. Ele fora um monstro.
A verdade é que ele ainda podia ser um monstro. Quando a primeira aula começou e uma
professora que se apresentava como Penthasilea começou a ler e a falar sobre o livro Fahrenheit ,
escrito por um vampiro antigo chamado Ray Bradbury, e sobre a importância da liberdade de
pensamento e de expressão, Rephaim tentou fazer as suas novas feições humanas aparentarem
atenção e interesse, mas a sua mente escapulia. Ele queria escutar a professora e não ter mais nada
para se preocupar além do que ela chamava de "interpretação do simbolismo", mas a sua
transformação de garoto em corvo o obcecava. Esse processo foi tão doloroso e assustador quanto
importante. Ele não se lembrava de quase nada do que aconteceu depois disso. Apenas algumas
imagens e sensações daquele dia permanecem com ele.
Stevie Rae foi com ele dos profundos túneis de terra até a árvore mais próxima da estação -
aquela que, não muito tempo atrás, serviu de rota de fuga do sol escaldante para eles. - Volte para
dentro agora. Está começando a amanhecer - ele disse para ela, tocando gentilmente sua bochecha. -
Eu não quero te deixar - ela respondeu, envolvendo-o com os seus braços e abraçando-o forte. Ele se
permitiu abraçá-la de volta apenas por um instante, e então, delicadamente, soltou seus braços e a
guiou de volta firmemente para as grades sombreadas da entrada do porão. - Vá para baixo. Você está
exausta. Precisa dormi. - Eu vou ficar olhando até você virar, você sabe. Um pássaro. Ela havia
sussurrado a última parte como se o fato de não falar em voz alta pudesse mudar as coisas. Era
certamente uma bobagem, mas fez Rephaim sorrir. - Não importa se você diz isso ou não. Vai
acontecer. Ela suspirou. - Eu sei. Mas mesmo assim não quero deixar você - Stevie Rae saiu das
sombras, em direção à manhã que já se clareava, e pegou a mão dele. - Quero que você saiba que eu
estou aqui. - eu acho que um pássaro não sabe muita coisa sobre o mundo dos humanos - ele disse,
pois não sabia mais o que falar. - Você não vai se um pássaro qualquer. Você vai se transformar em um
corvo. E eu não sou uma humana. Sou uma vampira. Vermelha. Além disso, se eu não ficar aqui, como
você vai saber para quem voltar? Ele escutou um soluço na voz dela que fez seu coração doer. Rephaim
então beijou a mão dela. - Eu vou saber. Dou minha palavra. Eu sempre vou encontrar o caminho de
volta para você - ele esteve a ponto de dar um empurrãozinho nela em direção à entrada do porão
quando uma dor nauseante atravessou seu corpo. Agora, olhando para trás, ele percebia que deveria
ter esperado por isso. Como poderia não ser doloroso se transformar de garoto humano em corvo?
Mas seu mundo havia sido preenchido com Stevie Rae e o prazer simples, mas absoluto, de tomá-la em
seus braços, beijá-la, abraçá-la forte... Ele não havia gasto seu tempo pensando na besta. Pelo menos,
ele estaria preparado da próxima vez. A dor o havia rasgado. Ele ouviu o grito de Stevie Rae ecoar o seu
próprio. O seu último pensamento humano foi de preocupação com ela. A sua última visão humana
fora dela chorando e balançando a cabeça de um lado para o outro. Ela estendeu o braço na direção a
ele quando o animal tomou totalmente o lugar do humano. Ele se lembrava de ter aberto suas asas
como se tivesse se alongando depois de ficar preso em uma cela pequena ou uma jaula. E de voar. Ele
se lembrava de voar. Quando o sol se pôs, ele se viu com frio e nu abaixo da mesma árvore ao lado da
estação. Ele tinha acabado de pôr as roupas que haviam sido deixadas cuidadosamente dobradas para
ele em um banquinho quando Stevie Rae irrompeu do portão. Sem hesitar, ela se atirou nos seus
braços. - Você está bem? Mesmo? Está tudo ok? - ela ficou repetindo enquanto o examinava e
apalpava seus braços, como se procurasse ossos quebrados. - Eu estou bem - ele garantiu. Então ele
percebeu que ela estava chorando e envolveu seu rosto com as mãos, perguntando: - O que foi? Por
que você chora? - Você sentiu muita dor. Você gritou como se tivesse morrendo. - Não - ele mentiu. -
Não foi tão ruim assim. Só me pegou de surpresa. - Sério? Ele deu um sorriso - como ele amava sorrir -
e a puxou para seus braços, beijando seus cachos loiros e garantindo novamente. - Sério. -Rephaim?
Rephaim foi trazido bruscamente de volta para o presente pelo seu nome sendo chamado pela
professora. - Sim? - ele respondeu com seu próprio tom interrogativo.
Ela não sorriu para ele, mas também não zombou dele nem o repreendeu. Ela simplesmente
disse: - Eu perguntei o que você acha que a citação na página sete quer dizer. Aquela em que Montag
diz que o rosto de Clarisse tem uma luz que é como "um frágil cristal leitoso" e "a estranhamente
confortável, rara e agradável chama de uma vela". O que você acha que Bradbury está tentando dizer
sobre Clarisse com essa descrição? Rephaim ficou completamente pasmo. A professora estava fazendo
um pergunta a ele. Como se ele fosse apenas mais um novato sonhador... Igual... Aceito. Sentindo-se
nervoso e totalmente exposto, ele abriu a boca e falou a primeira coisa que veio à cabeça. - Acho que
ele esta tentando dizer que essa garota é única. Ele reconhece o quanto ela é especial e a valoriza. A
professora Penthasilea levantou a sobrancelha e por um instante terrível Rephaim achou que ela
poderia ridicularizá-lo. - É uma resposta interessante, Rephaim. Talvez, se você mantivesse a sua mente
mais focada no livro e menos em outras coisas, suas respostas passariam de interessante a brilhantes -
ela observou, com uma voz seca e prática. - O - obrigado - Rephaim gaguejou, sentindo o rosto
esquentar. Penthasilea fez um leve aceno com a cabeça antes de se virar para um estudante sentado
mais na frente da classe e perguntar: - E sobre a pergunta final dela para ele nessa cena: "Você está
feliz?" Qual é o significado? - Bom trabalho - Damien sussurrou da sua mesa ao lado para Rephaim.
Rephaim não conseguiu responder. Ele só fez um sinal com a cabeça e tentou esconder a súbita leveza
de espírito que ele sentia. - Você sabe o que aconteceu com ela? Com essa garota especial? - o
sussurro veio do novato sentado bem a frente de Rephaim. Era um rapaz baixo e musculoso, com um
perfil forte. Rephaim pôde ver claramente o desdém no seu rosto quando ele se virou para trás
rapidamente sobre o ombro. Rephaim balançou a cabeça. Não, ele não sabia. - Ela é assassinada por
causa dele.
Rephaim sentiu como se tivesse levado um chute no estômago. - Drew, você tem algum
comentário sobre Clarisse? - a professora perguntou, levantando sua sobrancelha de novo. Drew deu
de ombros indiferentemente. - Não, senhora. Eu só estava dando ao menino-pássaro uma revelação
sobre o futuro - ele fez uma pausa e olhou sobre o ombro antes de dizer: - Sobre o futuro do livro,
quero dizer. - Rephaim - a professora pronunciou o seu nome com uma voz que havia se tornado dura.
Rephaim ficou surpreso de sentir o poder dela na sua pele. - Na minha aula, todos os novatos são
iguais. Todos são chamados pelos seus nomes corretos. O dele é Rephaim. - Professora P., ele não é um
novato - Drew disse. A professora bateu a mão na sua mesa e a classe inteira vibrou com o som e a
energia. - Ele está aqui. E enquanto ele estiver aqui, na minha aula, ele vai ser tratado como qualquer
outro novato. - Sim, senhora - Drew respondeu, abaixando a cabeça respeitosamente. - Ótimo. Agora
que isso está resolvido, vamos discutir o projeto criativo que vocês vão fazer para mim. Quero que
vocês escolham e deem vida a um dos muitos elementos simbólicos que Bradbury usa esse livro
maravilhoso... Rephaim não se mexeu enquanto a atenção da classe de desviava dele e do novato
Drew de volta para o livro. A frase "ela é assassinada por causa dele" não saía da sua cabeça. Era claro
o que o Drew queria dizer. Ele não estava falando sobre uma personagem em um livro. Ele estava se
referindo a Stevie Rae, insinuando que ela acabaria morta por causa dele. Nunca. Enquanto ele
respirasse, ele nunca iria permitir que nada nem ninguém machucassem a sua Stevie Rae. Quando o
sino tocou sinalizando o final da aula, Drew encarou Rephaim com um ódio inabalável. Rephaim teve
que se segurar para não atacá-lo. Inimigo! Sua velha natureza gritava. Destrua-o! Mas Rephaim abaixou
o queixo e sustentou o olhar de Drew sem piscar enquanto o novato esbarrava bruscamente ao passar
por ele.
E não era só Drew que o encarava com ódio. Todos o encaravam de forma hostil, assustada ou
horrorizada. - Ei- Damien falou ao sair da classe com ele. - Não se incomode com Drew. Ele tem uma
queda por Stevie Rae. Só está com ciúmes. Rephaim concordou e então esperou até que eles se
afastassem dos outros estudantes e ninguém pudesse ouvir. Então, em voz baixa, ele disse: - Não é só
o Drew. São todos. Eles me odeiam. Damien fez um sinal para que ele o seguisse um pouco para fora
do caminho, então ele parou e falou: - Você sabia que não seria fácil. - Isso é verdade. Eu só... -
Rephaim interrompeu o que ia dizer e balançou a cabeça. - Não. É a pura verdade. Eu sabia que seria
difícil os outros me aceitarem - ele encontrou o olhar de Damien. O novato pareceu abatido. A tristeza
o havia envelhecido. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Ele havia perdido o amor da sua vida,
mas mesmo assim estava ali sendo gentil. - Obrigado, Damien - ele disse. Damien quase sorriu. - Por
dizer a você que não seria fácil? - Não, por ser gentil comigo. - Stevie Rae é minha amiga. A gentileza é
para ela. - Então você é um grande amigo - Rephaim falou. - Se você é realmente o garoto que Stevie
Rae acha que você é, você descobrirá que, quando está do lado da Deusa, você faz um monte de
grandes amigos. - Eu estou do lado da Deusa - Rephaim afirmou. - Rephaim, se eu não acreditasse
nisso, não estaria ajudando você, não importa o quanto eu gosto de Stevie Rae - Damien disse.
Rephaim concordou. - É justo. - Oi, Damien! - um dos novatos vermelhos, um garoto muito baixo,
correu em direção deles, deu uma olhada para Rephaim e então acrescentou rapidamente. - Oi,
Rephaim.
- Oi, Ant - Damien respondeu. Rephaim fez um aceno com a cabeça, desconfortável com todo
esse processo de saudações. - Ouvi que você tem esgrima a esta hora. Eu também! - Eu tenho - Damien
confirmou. - Rephaim e eu estávamos apenas... - ele fez uma pausa e então Rephaim observou várias
emoções passarem pelo seu rosto, terminando com constrangimento. Ele suspirou pesadamente antes
de dizer: - Ahn, Rephaim, Dragon Lankford é o professor de esgrima. Então Rephaim entendeu. - Isso,
ahn, não é bom - Ant comentou. - Pode ser é melhor eu ficar aqui, esteja Dragon lá ou não. Se eu for
com você só vai causar... - a voz de Rephaim desapareceu porque ele só conseguia pensar em palavras
como caos, problema e desastre. - Dissabor - Damien preencheu o silêncio por ele. - Provavelmente
causaria dissabor. Talvez você deva matar a aula de esgrima hoje. - Parece melhor - Ant opinou. - Vou
esperar por você - Rephaim fez um gesto vago em direção à área de árvores em volta deles. Eles não
estavam longe de um dos muros da escola onde, junto à fachada de pedra, havia um carvalho
particularmente grande, embaixo do qual tinha um banco de ferro forjado. - Vou ficar sentado ali. -
Combinado, eu venho encontrar você depois da esgrima. A próxima aula é espanhol. A professora
Garmy é muito agradável. Você vai gostar dela - Damien disse enquanto ele e Ant se dirigiam ao
ginásio. Rephaim concordou com a cabeça, acenou e se forçou a sorrir por que Damien continuou
preocupado, dando olhadas por sobre o ombro para ele. Quando os dois novatos finalmente saíram de
vista, Rephaim foi até o banco e se sentou pesadamente. Ele ficou contente por ter um tempo sozinho,
em que ele podia baixar a guarda, podia relaxar os ombros e não se preocupar com os olhares dos
outros. Ele se sentia como um forasteiro! No que ele estava pensando quando disse que queria ser
normal é ir para a escola como todo mundo? Ele não era todo mundo.
Mas ela me ama. A mim. Assim como eu sou, Rephaim lembrou a si mesmo, e pensar nisso o fez
se sentir melhor - com o espírito um pouco mais leve. Então, como ele estava sozinho, disse em voz
alta. - Eu sou Rephaim e Stevie Rae me ama do jeito que eu sou. - Rephaim! Não! A voz semi-humana
sussurrada veio dos galhos do carvalho. Com uma terrível sensação de pavor, Rephaim olhou para cima
para ver três Raven Mockers, três dos seus irmãos, empoleirados lá em cima, olhando para ele em
choque e sem acreditar no que viam.
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Beatriz- Filhos de Erebus
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